Estou eu aqui com discussões novas sobre o Talal Asad. E eu fico pensando como as nossas escolhas teóricas são produtos de uma articulação com a nossa pauta de anseios políticos. Ele, ao deslegitimar noções de religião como um ópio da sociedade, mostrando que "religião" é um conceito hegemônico utilizado por "secularistas" que serve para expurgar diferentes visões de mundo, demonstra que o que se emerge é uma "não tolerância". Para quem é laico ou ateu, a religião significa apenas fetichizar, realizar rituais para ordenar o mundo e fazer suportar as desgraças da vida. E, como uma falsa consciência, ela é tolerada quanto domino da "crença", ou, como fala Emerson Giumbelli, do que se pode ser considerado "opinião". Porém, quando essa opinião mobiliza e tem efeitos no que é tido como "verdades" do mundo, tendo efeito no sistema econômico, jurídico e político, dando um sentido "religioso" ao curso natural do estado e se mostrando contrário ao que é tido como "laico", ela se torna um "problema". A religião "foge" do seu lugar. Ela "polui".
O que se apresenta é que a religião é uma categoria historicamente produzida e que explicar determinados contextos a partir dela significa uma má interpretação do ponto de vista dos nativos. O islamismo, para Talal Asad, não é compreendido pelos muçulmanos egípcios como a gente compreende o que é religião. Talvez o islão seja para os muçulmanos o que a verdade é para a modernidade. É, a partir dessa comparação, que se é possível fazer uma antropologia simétrica.
Isso, para além de uma interpretação do outro mais fidedigna, de colocar conceitos em posições de igualdade, permite também que a gente não veja o outro como falsa consciência. Não concordo com evangélicos quando estes dizem que "Deus diz que homem não pode casar com homem", mas eu não diria que ele crê e eu sei a verdade. Se a igualdade é um valor na antropologia, e se a gente quer de fato tratar as diferentes conformações sociais e culturais como uma diversidade, então é necessário, tanto epistemologicamente quanto politicamente, colocar em pé de igualdade diferentes formas de pensar o mundo.