quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Porque eu não vou assinar a petição contra o "Estupro coletivo"

Antes de me taxar como homofóbico ou misógino, leia o texto:


Nesta tarde, chegou, por diferentes meios, o assunto sobre o "estupro corretivo" da África do Sul. Fui ler sobre esta categoria e encontrei um texto que pedia a assinatura de um abaixo-assinado, requerendo ao ministro da justiça da África do Sul que ele condene esta prática.
Não obstante me causar repulsa práticas lesbofóbicas e acreditar que não faz qualquer sentido violentar mulheres por serem homossexuais, eu fico imaginando quais são as construções que um tipo de petição como esta faz sobre realidades distintas. A África do Sul se torna um ambiente de perigo e dá uma breve sensação de que "aqui é melhor, (um pouco) melhor". O externo que se torna o primeiro plano das violações aos homens e mulheres.
Tal retórica esconde pretensões hegemônicas de humanidade e legitima visões de que somos melhores defensores de direitos humanos do que as elites locais deste país da África. "Vamos invadir a África, implantar "missões" de feminilidades e combater as hetero-normatividades" se torna algo legítimo. Não que não valha a pena hegemonizar visões mais pro-mulheres ou pro-homossexuais, mas eu acho que a proposta deste abaixo-assinado poderá ter uma vida social para fins de valia muito mais econômica do que para promoção de igualdade e liberdade de gênero.
Portanto, neste momento e com total desconhecimento da realidade dos sul-africanos, me recuso a assinar um abaixo-assinado que faz com que um "estupro corretivo" se torne assunto nacional, quando este tipo de violência sexual pode ser localizado.

Também penso que violações como essas ocorrem em diversos outros lugares: lembro-me de um documentário de um homem americano que tinha casado com uma mulher lésbica e que afirmou que, após escutar que a mulher era lésbica, compreendeu que ela era assim por "falta de carinho". Desta maneira, forçou sexo com ela. A mulher chorou e se sentiu violentada, apesar de não ter tido forças para se contrapor ao marido. Seria esta concepção de "sexo corretivo" apenas sulafricana?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Por que eu comecei a gostar de "a Rede Social"

Parece consenso entre meus amigos que "A rede social" não é um filme "nada de demais". Provavelmente, pode ser que isto seja verdade, mas, dentro da minha teoria interpretativa do mundo, gostar ou não de um filme envolve muito mais do que o filme, envolve empatia entre audiência e o próprio filme.
A minha relação com o filme começou com a crítica especializada americana, que tratou do filme como o melhor do ano. Todos falavam de um roteiro bem amarradinho, de uma edição interessante, etc.. O filme me tocou, no entanto, pelo contato que tive com o material de marketing. O cartaz, por exemplo, tem um formato mais diferenciado dos outros, colocando em um plano bastante secundário o título do filme:
Tudo bem que isto não significa tanta coisa, afinal, é apenas um cartaz e aquela máxima de "não julgue o livro pela capa" tem uma determinada importância. Só que colocar um cartaz que não possui os créditos do cast&crew, ou mesmo deixar de lado os nomes de destaque do elenco (que não tem, exceto pelo Justin Timberlake), torna o filme pretensamente "distinto".
Fui, então, assistir ao trailer do filme. Este, sim, me arrebatou imensamente. Mulheres cantando, em coral, uma melodia (Creep, do Radiohead) em que um cara busca aceitação "I want a perfect body/ I want a perfect soul/ I want to know me/ when I'm not around/You're so fucking special/ I wish I was special" enquanto as cenas do filme vão passando, e surge a história de intrigas entre antigos amigos - o facebook como espaço de união e posterior discórdia e uma explosão de imagens em que o sucesso surge "this is our time".

Mesma reação tive quando assisti ao trailer de "Closer - Perto Demais": juntaram-se as músicas do Damien Rice (que era um desconhecido para boa parte dos seus atuais fãs brasileiros) e da Suzanne Vega, com frases de efeito "Intimacy is a lie... we think we know". Assisti muitas vezes (e adorei o filme também). Há, se você vê os dois trailers, similaridades, como o fundo musical e uma introdução com cenas sem diálogos.


Eu assisti ao filme, sendo uma pilha de expectativas e algumas pessoas afirmando que ele não prestava. E, meio que com a finalidade de dignificar minhas expectativas, eu disse que somente assistindo ao filme para dizê-lo se ele é bom ou ruim. Não bastava desgostar sem assistir, nem criticá-lo por antecipação. Seria melhor dizer "eu não vi, e não quero ver" do que afirmar que era "histeria coletiva". Por antecipação, eu aprendi a gostar de um fime que não tinha assistido para contrapor a este modelo de comportamento com o cinema, que eu às vezes reproduzo...
No mais, o filme me apresentou uma boa reflexão sobre relações de amizade. Me identifiquei com Eduardo Saverin, que é apresentado como uma pessoa deixada de lado pelo amigo Mark Zuckerberg. Saverin se sente o amigo traído, porque não é mais tão atrativo e não quer por a culpa no seu amigo, mas sim na pessoa que Zuckerberg dá atenção, o Parker. Saverin desce na hierarquia dos amiguinhos de Zuckerberg e fica muito mal com isto.
Esta agressão moral é o melhor que se tem para extrair do filme do Facebook. Nem me importou muito a questão financeira, ou mesmo a formação do maior site de relacionamentos na atualidade. E hoje eu lembro como isto me ocorreu, quando eu me senti não mais "bem-querido".


Eramos nós, estreitos nós

Encontro-me na frente do computador da minha irmã. O meu está no conserto, porque, apesar de já estar reparado, não tenho dinheiro para tirá-lo. Isto não quer dizer que eu seja de uma família pobre, mas apenas que eu, Alexandre, em minha individualidade, estou pobre.
Poderia dizer "eu sou pobre" também. Mas, como parte de uma sociedade individualista, o "ser/estar" tem uma relação diferenciada. Afirmar que a minha condição no mundo "está" indica que eu acredito na mudança, que eu posso transitar entre as diferentes classes sociais. Se eu dissesse que "sou" pobre, minha condição de pobreza era estática, imutável.
Isto chega a questão principal do meu blog: será que ele poderá ser uma tecnologia de modificação do meu self? Não, não é para deixar de "estar pobre", mas sim por deixar de ser "imperseverante". Eu gostaria de escrever sempre, mas a preguiça faz com que eu abandone alguns blogs (ver meu perfil, que tem uns 5 blogs escritos e abandonados). Tentei recentemente um diário, mas também fui incapaz de mantê-lo por mais que um mês. É difícil Alexandre se manter perseverante.

"É difícil Alexandre se manter perseverante". Este meu medo de não conseguir manter tantas coisas boas na minha vida. Graduação, família, projetos. Por favor, me ajudem a ser uma melhor pessoa.

Obrigado.
Alexandre Fernandes no dia 25 de janeiro de 2011, ainda fazendo deste mês "a segunda-feira da semana" do novo ano.