sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Educação jurídica e autoritarismo


Não sei se essa história é verdadeira, mas, mesmo que seja falsa, ela é minimamente plausível. Dizem que aconteceu numa universidade particular, mas poderia acontecer na Universidade de Brasília que não me causaria espanto. Eu vou floreá-la para deixar mais bonita e, portanto, isto aqui não passa de uma alegoria.
Certa vez, uma professora de direito processual penal iniciou o semestre fazendo uma pequena revisão sobre direito penal, apresentando alguns conceitos que as pessoas aprendem na “teoria do crime”. Em certo momento, a professora apresentou o conceito de “crime impossível”. Para quem não sabe o que significa este conceito, pode-se dizer que é quando alguém acha que esta cometendo um delito, mas sua ação não é tipificada em lei. Um exemplo bem clássico é quando uma pessoa atira num defunto achando que ele ainda estar vivo. A intenção, de fato, era cometer um homicídio, mas as circunstâncias de que a potencial vítima estava morta impede de subsumir a uma ação de “matar alguém”.
Pois bem. A professora, com o intuito de “provocar” a turma, fez um exemplo um tanto ortodoxo. Ela afirmou que era um crime impossível o estupro de “mulher feia”. Começou a soltar um monte de gafes estilo Rafinha Bastos (não, ele ainda não tinha soltado esta pérola horrorosa no seu programa), dizendo que aquilo era um favor e que, por isso, não poderia ser punido penalmente.
A sala de aula, escutando tal tipo de comentário, se remexeu. Alguns acharam super engraçado, afinal, era isso mesmo! “Mulher feia não sofre estupro, ganha favor”. Em um ponto da sala, alguns com o espírito um pouco mais feminista, que vêem nesta atitude uma hierarquização frontal às relações de gênero, começaram a ficar desconfortáveis.
Entretanto, esses sentimentos ficaram guardados. O silêncio, às vezes cortado por risadinhas dos idiotas, se manteve. A professora não quis deixar passar e continuou com argumentos circulares. O desconforto batendo nas cabecinhas de estudantes, principalmente das mulheres, mas todo mundo continuou calado.
A professora ficou abismada com a passividade apresentada. Foi então que ela se explicou, disse que não concordava com nada do que tinha dito, que se tratava apenas de uma atuação tosca. Afirmou que queria ver o grau de espírito crítico da turma, e em que sentido eles são contestadores. Quando a máscara da professora caiu, todos os alunos começaram a modificar seus comportamentos: quem ria, parou. Quem estava sério, começou a endossar os comentários da professora.
Se eu fosse essa professora, eu ficaria triste em perceber que os estudantes se comportam de acordo com o que o professor demonstra seu pensamento. Parece que a sala de aula é um espaço em que o que o professor diz é verdade, que não há razões de discordar. 
Uma das minhas razões de sair de uma faculdade de direito é esta. Professores são poderosos demais. O espaço escolar está longe de ser um local em que as regras de democracia e comportamento adequado são sancionados.
Eu fico abismado com a quantidade de ações abusivas que um professor poderá cometer. Me espanta, entretanto, a passividade de alunos diante dessas ações.

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