quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Educação ruim


Em 2004, escrevia um jornal feito no Complexo Educacional Contemporâneo, em Natal. O jornal se chamava “Dê Niu Iorqui Taimes” e tratava basicamente de fofocas internas da turma, com piadinhas sobre colegas de sala. Era bastante divertido, apesar de ter algumas piadas homofóbicas que hoje eu não faria e, em muitos sentidos, era potencialmente uma fonte para bullying.
Quando vim para Brasília, ele foi extinto. Mas as pessoas quiseram assumir a ideia, surgindo novos escritores e novos jornal. Acho que foi Guma, Pedro Barros, Marília e outras pessoas que continuaram a escrita dele. Não lembro bem
Dois meses depois, jornais foram proibidos pela direção da escola. A coordenação, em conjunto com a diretoria, afirmou que o jornal não tinha nada de educativo, de modo que seria um desperdício de tempo a apresentação dele na frente da sala. Oito anos se passaram e eu já via tal explicação como bastante tosca. O que eu penso hoje só confirma o quão imbecil é um educador afirmar que um jornal publicado por alunos não é um processo educativo. Antes fosse afirmando que o jornal era um foco de bullying (o que eu acredito que não fosse), mas não. O que apenas foi dito era que aquilo era um desperdício de tempo e uma deseducação. Eu não sei se preciso explicar isto, mas aquele jornal era capaz de desenvolver muitas habilidades nos estudantes. A escrita, a leitura, oratória, conhecimento de gêneros textuais, desenvolvimento crítico, observação dos fatos sociais, etc.. Mas o autoritarismo de uma escola é incapaz de permitir iniciativas que não sejam constituídas pela equipe pedagógica.
Quando o jornal foi censurado, fiz críticas no antigo fotolog da turma. Pelas críticas, a diretoria ligou para minha mãe e conversou sobre esse texto, porque aquilo era propaganda negativa. Com isto, deletei o texto, meio que com medo do que poderia acontecer, como um processo judicial por injúria. Hoje, como sou advogado, sei muito bem que o que eu disse não era, nem de longe, algo errado. Uma iniciativa como a menina do “Diário de Classe”, pelo contrário, tem sido vista como bastante positiva. Queria ter continuado a escrever minhas críticas àquela escola, só que escutei dos meus queridos pais que “merda a gente faz no sanitário”. =(
Hoje eu entrei no sítio eletrônico da minha escola em Natal (http://www.contemporaneo.com.br). Não sei como está a administração da escola dentro de sala de aula, quais são as tensões existentes entre alunos e corpo docente, mas o sítio eletrônico já demonstra como são lamentáveis as concepções de educação que se há naquela escola. O ensino médio não é apresentado como simplesmente “ensino médio”, mas como “ensino médio/pré-vestibular”.
Por que pensar o ensino médio como pré-vestibular? Este nível da educação deveria ser auto-suficiente, por mais que seja desejoso aos estudantes continuar seus processos de formação na educação superior. É um desserviço acreditar que aquilo é uma etapa que se coroa pela conquista de uma vaga na Universidade. Essa ideia é tão naturalizada que o terceiro ano do ensino médio não é chamado de “3º”, mas de “pré”. E, como eu lembro, o "pré" não precisaria se dedicar à educação física e não participa das atividades extra-curriculares da escola. Muito pelo contrário: os “pré-vestibulandos” devem se centrar nos estudos para o vestibular, fazendo uma revisão completa de todas as disciplinas do ensino médio.
Terminado o que eu tenho a comentar, uma pergunta que não quer calar: será que vão ligar aqui pra casa depois de reclamar sobre minhas críticas?

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