sábado, 29 de novembro de 2014

Paris 1

Paris, 6 de dezembro de 2013

Quando eu tinha 8 anos e estava cursando a segunda série do ensino fundamental, minha professora sugeriu um redação como atividade de escola. Ela propusera que escolhêssemos um país e que imaginasse como seria a viagem. Meus amigos, em sua maioria, escolheram países do Oriente, como Japão e China. Uma parte queria ir aos Estados Unidos (especificamente a Disney). Eu não. Eu escolhi a França.
Fiz a minha redação. Lembro dela muito mais porque mainha mostrou para as pessoas na casa de Vovó Paé. Pelo o que eu me lembro, mainha achou-a bastante interessante. Lembro que ela afirmou que a nota que eu tinha tirado, um 8, se devia mais pelos erros de gramática e ortografia do que pelo conteúdo, que ela achava impecável. Eu lembro qual era o erro de ortografia: era porque eu escrevia “a gente fomos”: “A gente fomos pra o rio Sena, depois a gente subimos na torre Eiffel”.
Hoje eu tenho 24 anos, ou seja, o triplo da idade de quando escrevi essa redação. E hoje eu estou em Paris. Por um desvio da rota de pesquisa (hehehe), a redação se realizou de maneira extraordinária. Conheci diversos pontos da cidade que eu desconhecia a época da redação, como o Sacre-Ceur, o Moulin Rouge (imortalizado pelo musical), Montmartre (pela Amélie Poulain). Conheci os clichês da minha redação também, como os já citados e o museu do Louvre (especificamente pela Mona Lisa). E tive brilho nos olhos por conhecer tantos outros museus, como o D’Orsay e o das Armas. Infelizmente não fui a Disney (acho que na minha redação tinha esse passeio), porque acordei tarde e fiquei ainda guardando algum dinheiro para o final da viagem. Mas fui a Champs Elysee, às praças famosas, à Bastilha, espaço reconhecido como centro da revolução. Aqui a sensação é que são tantos lugares imortalizados em nossos livros de história.
Uma adendo: minha mente ensinada em espaços anticolonialistas fica a pensar sobre a preponderância da França no nosso imaginário. É incrível como uma cidade parece conter toda uma trajetória histórica que é utilizada para explicar o que nós somos hoje. Essa hegemonia realmente justifica Paris ser reconhecida enquanto uma cidade “Luz”, porque somos criados a crer que tudo surgiu aqui. Como acabei por seguir a rota da Pintura, fiquei pensando o quanto meus avos fazem pinturas semelhantes às dos impressionistas.
Se é apenas uma construção social, bem, eu não sei, mas somos treinados a pensar que tudo começou aqui e sabemos tão bem o nome dos reis, revolucionários, locais, eventos que estão marcados nas esquinas dessa cidade que eu vou ceder um pouco. Parece-me que todo mundo que se considera ocidental tem de vir a Paris. É a nossa Meca (New York precisa mudar minha opinião).
Agora que a viagem está no fim, percebi que as primeiras sensações que eu tinha, uma chateação com o dono do quarto onde me hospedara em Lisboa e o medo de estar só no final de uma viagem (quero voltar!), foram se evaporando pela experiência, de modo tal que acho que valeu muito a pena estar aqui. Conheci aspectos dessa cidade incríveis, como um metrô bastante eficiente e confortável (reparem nas fechaduras das portas do vagão), um frio que não venta, pessoas que seguem muito a etiqueta (uma domesticação do self incrível). Esqueci de diversos detalhe e, por tal razão, essa redação é muito pouco rica diante da experiência que vivenciei.
Apesar disso, a imaginação que eu tive aos oito anos não deve ser desmerecida diante da experiência. Isso porque o “a gente fomos” foi o que mais faltou aqui. Quando escrevia assim, pensava n‘a gente”, nas viagens para Maceió, Bonito, Garanhuns ou Martins. Na minha imaginação, viajar para Paris era dois carros cheios de crianças no banco de trás, com dois casais e com um orçamento um pouco apertado para todo mundo poder participar dos passeios, com direito a coca-cola grande para todo mundo beber. Talvez seja por querer que esse momento que eu tive fosse compartilhado que eu escrevo essa carta, porque essa viagem é incompleta pela falta de “a gente”. Imaginar que vocês estão aqui comigo, mesmo pelo whatsapp, foi muito importante.

Saudades. (Preparem o feijão preto –com farofa- tô voltando).


Alexandre

Nenhum comentário:

Postar um comentário