Estou acompanhando estudantes da Universidade de Brasília em seu primeiro semestre. São estudantes do curso de direito, em sua maioria realizando a primeira graduação. Sinto que há rupturas e continuidades com o ensino médio. Apresento, aqui, apenas um exemplo de cada uma.
Uma ruptura
Na aula de introdução ao direito, sentam-se todos na sala e aguardam o professor chegar, tendo sempre um olho em direção à porta de entrada da sala. A disciplina da escola ginasial, que faz com que não seja desejável você sair da sala de aula enquanto espera o professor, ainda tem ação social nos seus estudantes. Lembro-me que, certa vez no meu primeiro semestre, fui dar um passeio pelo pavilhão João Calmon e comer na cantina do Anísio Teixeira. Passei cerca de 20 minutos e retornei à aula. Minha colega, também caloura e egressa do colégio, ao final da aula, me afirmou: "nossa, Alexandre, você demorou tanto. Estava doida para ir ao banheiro". O que aconteceu foi que esta esperou eu voltar para ela ir ao banheiro, resultado da etiqueta escolar que proíbe a saída de mais de um estudante por vez.
Uma continuidade
O professor fala em sala de aula e o estudante copia. O caderno ainda é a principal tecnologia de aprendizado ("eu só cobro o que eu dou em aula"). O professor faz sua abordagem sobre os conceitos de "Ciência", "cultura" e "direito", mas é incapaz de afirmar qual é a matriz teórica que segue, nem indicar quais autores pensam desta maneira sobre determinado objeto.
Fazem da ciência uma só, e nem mostra a cara de quem está atrás desta ciência. Eu, durante certa aula, estava vendo Tércio Sampaio, Durkheim e Saussure por trás do que o professor falava, mesmo que este não tenha citado o nome de qualquer um destes teóricos. Os calouros, infelizmente, não sabem que aquilo ali tinha uma origem autoral e empreendem a compreensão daqueles fenômenos como a única forma de tocar o conhecimento. E o professor, para mim, fica no mesmo nível do professor de ensino médio. Repete a ação de um professor de ensino médio de história, que fez com que eu me tornasse temporariamente e inconscientemente um marxista (escrevia nas minhas provas que "O faraó dominava a sociedade egípcia por controlar os meios de produção"). Lamentável.
Sei que as relações sempre são hierárquicas, que os professores são mais poderosos do que os estudantes e têm o domínio do sistema coercitivo, e não quero romper com isto. Mas saibam que ver revoltas estudantis me lava a alma. Professores, deixem as crianças em paz.
A continuidade me pareceu mais relevante que a ruptura... :)
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