sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sobre o ato de abraçar


Vovó Paé me disse que as histórias tristes a gente deve escrever na areia. Eu entendo esta mensagem, mas peço licença para escrever uma história triste, porque algumas palavras sobre o ato de abraçar decorrem desta história.

Era 2003, mainha tinha ido para a casa de vovó. Quando voltou, eu perguntei como tinha sido lá. “Sua vó foi direto de Cajueiro para o hospital. Ela disse que chegou lá 'toda cafajeste' e que o médico nem tinha dado atenção para ela. Mas ela falou que conseguiu ver vovó Guilhermina”.

Depois daquele dia, eu comecei a chamar pessoas mal-vestidas de “toda cafajeste”. Rio sempre porque lembro de vovó Paé falando “toda cafajeste”. Mas também naquele dia a mãe de vovó Paé não votaria mais para a casa. Vovó Guilhermina, minha bisavó, tinha sido internada porque tinha passado mal. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, também nem procurei saber muito porque aquilo, para mim, era apenas a idade. Eu entendia que a fragilidade da saúde de vovó Guilhermina era porque ela já se encontrava velhinha, com seus 88 anos.

Foi mais ou menos um mês de idas e vindas ao Hospital do Coração, de visitas a UTI e de um coma que já não acabava mais. Vovó Paé contou para mim que tentou conversar com a mãe dela antes do coma, perguntando se ela sabia quem era. Vovó Guilhermina, que já não estava muito consciente, disse: “não é Dunga? É Alexandre”.

Numa sexta-feira à noite, enquanto eu ficava aperreando mainha para a gente assistir “Carandiru” no cinema, pois só poderia assistir ao filme acompanhado de um maior de idade, o telefone tocou. E, como era tio Hércules e muito raramente tio Hércules ligava lá para casa, eu já imaginava qual era a notícia.

Mainha ficou chorosa, com o rosto mais vermelho do que o usual. Começou a ligar para outras pessoas e a informar que vovó Guilhermina tinha morrido. O meu cinema de sexta-feira furou, além de que o sábado seria dia de enterro. O domingo, que já seria um dia das mães sisudo com a situação da bisavó, só se tornaria um pouco mais lamentável.

No cemitério, já se encontrava diversos familiares ao redor do caixão, dentro da capela. Eu não consegui entrar e fiquei escutando a missa do lado de fora, observando a situação distante juntamente com minhas duas irmãs mais velhas. Lembro que o clima estava muito agradável, lembro como eu achei ótimo as meninas da ginástica terem ido ao enterro e dá um apoio para vovó Paé. Lembro também o quão eu fiquei incomodado com pessoas usando óculos escuros dentro de uma capela, como se fosse vergonhoso mostrar lágrimas em um enterro.

Até o fim da missa, eu não chorei. Só que a minha avó Paé, que até então não tinha falado nada, se pronunciou. Não lembro muito bem quais foram as palavras delas, mas a mensagem foi mais ou menos assim: “Quando eu era criança, mamãe tinha a pele muito vermelha e desgastada. Ela achava que aquilo era contagioso e pedia para a gente não ficar abraçando ela. Só que aquilo não era contagioso. Hoje eu percebi que não vou poder mais abraçá-la. Queria dizer para vocês, filhos e netos, que sempre que puder abraçar seu pais, sua mães ou seus avós, abrace-os”.

Aquelas poucas palavras fizeram com que eu e as minhas irmãs se aproximassem para dentro da capela. E, se até então eu estava mais atento em pequenas bobagens, eu percebi que vovó Guilhermina iria fazer falta para muita gente. Foram as palavras de vovó Paé, juntando-se ao corpo daquela velhinha dentro de um caixão, que fizeram com que eu começasse a chorar.

O choro, no entanto, sVovó Paé me disse que as histórias tristes a gente deve escrever na areia. Eu entendo esta mensagem, mas peço licença para escrever uma história triste, porque algumas palavras sobre o ato de abraçar decorrem desta história.

Era 2003, mainha tinha ido para a casa de vovó. Quando voltou, eu perguntei como tinha sido lá. “Sua vó foi direto de Cajueiro para o hospital. Ela disse que chegou lá 'toda cafajeste' e que o médico nem tinha dado atenção para ela. Mas ela falou que conseguiu ver vovó Guilhermina”.

Depois daquele dia, eu comecei a chamar pessoas mal-vestidas de “toda cafajeste”. Rio sempre porque lembro de vovó Paé falando “toda cafajeste”. Mas também naquele dia a mãe de vovó Paé não votaria mais para a casa. Vovó Guilhermina, minha bisavó, tinha sido internada porque tinha passado mal. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, também nem procurei saber muito porque aquilo, para mim, era apenas a idade. Eu entendia que a fragilidade da saúde de vovó Guilhermina era porque ela já se encontrava velhinha, com seus 88 anos.

Foi mais ou menos um mês de idas e vindas ao Hospital do Coração, de visitas a UTI e de um coma que já não acabava mais. Vovó Paé contou para mim que tentou conversar com a mãe dela antes do coma, perguntando se ela sabia quem era. Vovó Guilhermina, que já não estava muito consciente, disse: “não é Dunga? É Alexandre”.

Numa sexta-feira à noite, enquanto eu ficava aperreando mainha para a gente assistir “Carandiru” no cinema, pois só poderia assistir ao filme acompanhado de um maior de idade, o telefone tocou. E, como era tio Hércules e muito raramente tio Hércules ligava lá para casa, eu já imaginava qual era a notícia.

Mainha ficou chorosa, com o rosto mais vermelho do que o usual. Começou a ligar para outras pessoas e a informar que vovó Guilhermina tinha morrido. O meu cinema de sexta-feira furou, além de que o sábado seria dia de enterro. O domingo, que já seria um dia das mães sisudo com a situação da bisavó, só se tornaria um pouco mais lamentável.

No cemitério, já se encontrava diversos familiares ao redor do caixão, dentro da capela. Eu não consegui entrar e fiquei escutando a missa do lado de fora, observando a situação distante juntamente com minhas duas irmãs mais velhas. Lembro que o clima estava muito agradável, lembro como eu achei ótimo as meninas da ginástica terem ido ao enterro e dá um apoio para vovó Paé. Lembro também o quão eu fiquei incomodado com pessoas usando óculos escuros dentro de uma capela, como se fosse vergonhoso mostrar lágrimas em um enterro.

Até o fim da missa, eu não chorei. Só que a minha avó Paé, que até então não tinha falado nada, se pronunciou. Não lembro muito bem quais foram as palavras delas, mas a mensagem foi mais ou menos assim: “Quando eu era criança, mamãe tinha a pele muito vermelha e desgastada. Ela achava que aquilo era contagioso e pedia para a gente não ficar abraçando ela. Só que aquilo não era contagioso. Hoje eu percebi que não vou poder mais abraçá-la. Queria dizer para vocês, filhos e netos, que sempre que puder abraçar seu pais, sua mães ou seus avós, abrace-os”.

Aquelas poucas palavras fizeram com que eu e as minhas irmãs se aproximassem para dentro da capela. E, se até então eu estava mais atento em pequenas bobagens, eu percebi que vovó Guilhermina iria fazer falta para muita gente. Foram as palavras de vovó Paé, juntando-se ao corpo daquela velhinha dentro de um caixão, que fizeram com que eu começasse a chorar.

O choro, no entanto, se intensificou, porque eu fui me sentar ao lado da minha mãe, que soluçava na primeira cadeira em frente ao caixão. Ela, que estava muito abalada, encostou a cabeça no meu ombro. Eu poderia ter pego as palavras de vovó Paé e ter abraçado minha mãe, mas eu me senti tão frágil que não consegui fazer isso.

A lição que acabara de ser ensinada, que era de fazer demonstrações de afeto enquanto a gente pode demonstrar, já não era cumprida. Posso não ter abraçado a minha mãe naquela hora, mas a menVovó Paé me disse que as histórias tristes a gente deve escrever na areia. Eu entendo esta mensagem, mas peço licença para escrever uma história triste, porque algumas palavras sobre o ato de abraçar decorrem desta história.

Era 2003, mainha tinha ido para a casa de vovó. Quando voltou, eu perguntei como tinha sido lá. “Sua vó foi direto de Cajueiro para o hospital. Ela disse que chegou lá 'toda cafajeste' e que o médico nem tinha dado atenção para ela. Mas ela falou que conseguiu ver vovó Guilhermina”.

Depois daquele dia, eu comecei a chamar pessoas mal-vestidas de “toda cafajeste”. Rio sempre porque lembro de vovó Paé falando “toda cafajeste”. Mas também naquele dia a mãe de vovó Paé não votaria mais para a casa. Vovó Guilhermina, minha bisavó, tinha sido internada porque tinha passado mal. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, também nem procurei saber muito porque aquilo, para mim, era apenas a idade. Eu entendia que a fragilidade da saúde de vovó Guilhermina era porque ela já se encontrava velhinha, com seus 88 anos.

Foi mais ou menos um mês de idas e vindas ao Hospital do Coração, de visitas a UTI e de um coma que já não acabava mais. Vovó Paé contou para mim que tentou conversar com a mãe dela antes do coma, perguntando se ela sabia quem era. Vovó Guilhermina, que já não estava muito consciente, disse: “não é Dunga? É Alexandre”.

Numa sexta-feira à noite, enquanto eu ficava aperreando mainha para a gente assistir “Carandiru” no cinema, pois só poderia assistir ao filme acompanhado de um maior de idade, o telefone tocou. E, como era tio Hércules e muito raramente tio Hércules ligava lá para casa, eu já imaginava qual era a notícia.

Mainha ficou chorosa, com o rosto mais vermelho do que o usual. Começou a ligar para outras pessoas e a informar que vovó Guilhermina tinha morrido. O meu cinema de sexta-feira furou, além de que o sábado seria dia de enterro. O domingo, que já seria um dia das mães sisudo com a situação da bisavó, só se tornaria um pouco mais lamentável.

No cemitério, já se encontrava diversos familiares ao redor do caixão, dentro da capela. Eu não consegui entrar e fiquei escutando a missa do lado de fora, observando a situação distante juntamente com minhas duas irmãs mais velhas. Lembro que o clima estava muito agradável, lembro como eu achei ótimo as meninas da ginástica terem ido ao enterro e dá um apoio para vovó Paé. Lembro também o quão eu fiquei incomodado com pessoas usando óculos escuros dentro de uma capela, como se fosse vergonhoso mostrar lágrimas em um enterro.

Até o fim da missa, eu não chorei. Só que a minha avó Paé, que até então não tinha falado nada, se pronunciou. Não lembro muito bem quais foram as palavras delas, mas a mensagem foi mais ou menos assim: “Quando eu era criança, mamãe tinha a pele muito vermelha e desgastada. Ela achava que aquilo era contagioso e pedia para a gente não ficar abraçando ela. Só que aquilo não era contagioso. Hoje eu percebi que não vou poder mais abraçá-la. Queria dizer para vocês, filhos e netos, que sempre que puder abraçar seu pais, sua mães ou seus avós, abrace-os”.

Aquelas poucas palavras fizeram com que eu e as minhas irmãs se aproximassem para dentro da capela. E, se até então eu estava mais atento em pequenas bobagens, eu percebi que vovó Guilhermina iria fazer falta para muita gente. Foram as palavras de vovó Paé, juntando-se ao corpo daquela velhinha dentro de um caixão, que fizeram com que eu começasse a chorar.

O choro, no entanto, se intensificou, porque eu fui me sentar ao lado da minha mãe, que soluçava na primeira cadeira em frente ao caixão. Ela, que estava muito abalada, encostou a cabeça no meu ombro. Eu poderia ter pego as palavras de vovó Paé e ter abraçado minha mãe, mas eu me senti tão frágil que não consegui fazer isso.

A lição que acabara de ser ensinada, que era de fazer demonstrações de afeto enquanto a gente pode demonstrar, já não era cumprida. Posso não ter abraçado a minha mãe naquela hora, mas a mensagem ficou. Até hoje essas palavras meVovó Paé me disse que as histórias tristes a gente deve escrever na areia. Eu entendo esta mensagem, mas peço licença para escrever uma história triste, porque algumas palavras sobre o ato de abraçar decorrem desta história.

Era 2003, mainha tinha ido para a casa de vovó. Quando voltou, eu perguntei como tinha sido lá. “Sua vó foi direto de Cajueiro para o hospital. Ela disse que chegou lá 'toda cafajeste' e que o médico nem tinha dado atenção para ela. Mas ela falou que conseguiu ver vovó Guilhermina”.

Depois daquele dia, eu comecei a chamar pessoas mal-vestidas de “toda cafajeste”. Rio sempre porque lembro de vovó Paé falando “toda cafajeste”. Mas também naquele dia a mãe de vovó Paé não votaria mais para a casa. Vovó Guilhermina, minha bisavó, tinha sido internada porque tinha passado mal. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, também nem procurei saber muito porque aquilo, para mim, era apenas a idade. Eu entendia que a fragilidade da saúde de vovó Guilhermina era porque ela já se encontrava velhinha, com seus 88 anos.

Foi mais ou menos um mês de idas e vindas ao Hospital do Coração, de visitas a UTI e de um coma que já não acabava mais. Vovó Paé contou para mim que tentou conversar com a mãe dela antes do coma, perguntando se ela sabia quem era. Vovó Guilhermina, que já não estava muito consciente, disse: “não é Dunga? É Alexandre”.

Numa sexta-feira à noite, enquanto eu ficava aperreando mainha para a gente assistir “Carandiru” no cinema, pois só poderia assistir ao filme acompanhado de um maior de idade, o telefone tocou. E, como era tio Hércules e muito raramente tio Hércules ligava lá para casa, eu já imaginava qual era a notícia.

Mainha ficou chorosa, com o rosto mais vermelho do que o usual. Começou a ligar para outras pessoas e a informar que vovó Guilhermina tinha morrido. O meu cinema de sexta-feira furou, além de que o sábado seria dia de enterro. O domingo, que já seria um dia das mães sisudo com a situação da bisavó, só se tornaria um pouco mais lamentável.

No cemitério, já se encontrava diversos familiares ao redor do caixão, dentro da capela. Eu não consegui entrar e fiquei escutando a missa do lado de fora, observando a situação distante juntamente com minhas duas irmãs mais velhas. Lembro que o clima estava muito agradável, lembro como eu achei ótimo as meninas da ginástica terem ido ao enterro e dá um apoio para vovó Paé. Lembro também o quão eu fiquei incomodado com pessoas usando óculos escuros dentro de uma capela, como se fosse vergonhoso mostrar lágrimas em um enterro.

Até o fim da missa, eu não chorei. Só que a minha avó Paé, que até então não tinha falado nada, se pronunciou. Não lembro muito bem quais foram as palavras delas, mas a mensagem foi mais ou menos assim: “Quando eu era criança, mamãe tinha a pele muito vermelha e desgastada. Ela achava que aquilo era contagioso e pedia para a gente não ficar abraçando ela. Só que aquilo não era contagioso. Hoje eu percebi que não vou poder mais abraçá-la. Queria dizer para vocês, filhos e netos, que sempre que puder abraçar seu pais, sua mães ou seus avós, abrace-os”.

Aquelas poucas palavras fizeram com que eu e as minhas irmãs se aproximassem para dentro da capela. E, se até então eu estava mais atento em pequenas bobagens, eu percebi que vovó Guilhermina iria fazer falta para muita gente. Foram as palavras de vovó Paé, juntando-se ao corpo daquela velhinha dentro de um caixão, que fizeram com que eu começasse a chorar.

O choro, no entanto, se intensificou, porque eu fui me sentar ao lado da minha mãe, que soluçava na primeira cadeira em frente ao caixão. Ela, que estava muito abalada, encostou a cabeça no meu ombro. Eu poderia ter pego as palavras de vovó Paé e ter abraçado minha mãe, mas eu me senti tão frágil que não consegui fazer isso.

A lição que acabara de ser ensinada, que era de fazer demonstrações de afeto enquanto a gente pode demonstrar, já não era cumprida. Posso não ter abrVovó Paé me disse que as histórias tristes a gente deve escrever na areia. Eu entendo esta mensagem, mas peço licença para escrever uma história triste, porque algumas palavras sobre o ato de abraçar decorrem desta história.

Era 2003, mainha tinha ido para a casa de vovó. Quando voltou, eu perguntei como tinha sido lá. “Sua vó foi direto de Cajueiro para o hospital. Ela disse que chegou lá 'toda cafajeste' e que o médico nem tinha dado atenção para ela. Mas ela falou que conseguiu ver vovó Guilhermina”.

Depois daquele dia, eu comecei a chamar pessoas mal-vestidas de “toda cafajeste”. Rio sempre porque lembro de vovó Paé falando “toda cafajeste”. Mas também naquele dia a mãe de vovó Paé não votaria mais para a casa. Vovó Guilhermina, minha bisavó, tinha sido internada porque tinha passado mal. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, também nem procurei saber muito porque aquilo, para mim, era apenas a idade. Eu entendia que a fragilidade da saúde de vovó Guilhermina era porque ela já se encontrava velhinha, com seus 88 anos.

Foi mais ou menos um mês de idas e vindas ao Hospital do Coração, de visitas a UTI e de um coma que já não acabava mais. Vovó Paé contou para mim que tentou conversar com a mãe dela antes do coma, perguntando se ela sabia quem era. Vovó Guilhermina, que já não estava muito consciente, disse: “não é Dunga? É Alexandre”.

Numa sexta-feira à noite, enquanto eu ficava aperreando mainha para a gente assistir “Carandiru” no cinema, pois só poderia assistir ao filme acompanhado de um maior de idade, o telefone tocou. E, como era tio Hércules e muito raramente tio Hércules ligava lá para casa, eu já imaginava qual era a notícia.

Mainha ficou chorosa, com o rosto mais vermelho do que o usual. Começou a ligar para outras pessoas e a informar que vovó Guilhermina tinha morrido. O meu cinema de sexta-feira furou, além de que o sábado seria dia de enterro. O domingo, que já seria um dia das mães sisudo com a situação da bisavó, só se tornaria um pouco mais lamentável.

No cemitério, já se encontrava diversos familiares ao redor do caixão, dentro da capela. Eu não consegui entrar e fiquei escutando a missa do lado de fora, observando a situação distante juntamente com minhas duas irmãs mais velhas. Lembro que o clima estava muito agradável, lembro como eu achei ótimo as meninas da ginástica terem ido ao enterro e dá um apoio para vovó Paé. Lembro também o quão eu fiquei incomodado com pessoas usando óculos escuros dentro de uma capela, como se fosse vergonhoso mostrar lágrimas em um enterro.

Até o fim da missa, eu não chorei. Só que a minha avó Paé, que até então não tinha falado nada, se pronunciou. Não lembro muito bem quais foram as palavras delas, mas a mensagem foi mais ou menos assim: “Quando eu era criança, mamãe tinha a pele muito vermelha e desgastada. Ela achava que aquilo era contagioso e pedia para a gente não ficar abraçando ela. Só que aquilo não era contagioso. Hoje eu percebi que não vou poder mais abraçá-la. Queria dizer para vocês, filhos e netos, que sempre que puder abraçar seu pais, sua mães ou seus avós, abrace-os”.

Aquelas poucas palavras fizeram com que eu e as minhas irmãs se aproximassem para dentro da capela. E, se até então eu estava mais atento em pequenas bobagens, eu percebi que vovó Guilhermina iria fazer falta para muita gente. Foram as palavras de vovó Paé, juntando-se ao corpo daquela velhinha dentro de um caixão, que fizeram com que eu começasse a chorar.

O choro, no entanto, se intensificou, porque eu fui me sentar ao lado da minha mãe, que soluçava na primeira cadeira em frente ao caixão. Ela, que estava muito abalada, encostou a cabeça no meu ombro. Eu poderia ter pego as palavras de vovó Paé e ter abraçado minha mãe, mas eu me senti tão frágil que não consegui fazer isso.

A lição que acabara de ser ensinada, que era de fazer demonstrações de afeto enquanto a gente pode demonstrar, já não era cumprida. Posso não ter abraçado a minha mãe naquela hora, mas a mensagem ficou. Até hoje essas palavras me tocam profundamente. Se vovó Paé colocou “cafajeste” no meu vocabulário, ela também fez com que eu aprendesse a importância de abraçar e, sobretudo, que o melhor dia de demonstrar afetos para parentes e companheiros é o dia de hoje, antes que fique tarde demais.açado a minha mãe naquela hora, mas a mensagem ficou. Até hoje essas palavras me tocam profundamente. Se vovó Paé colocou “cafajeste” no meu vocabulário, ela também fez com que eu aprendesse a importância de abraçar e, sobretudo, que o melhor dia de demonstrar afetos para parentes e companheiros é o dia de hoje, antes que fique tarde demais. tocam profundamente. Se vovó Paé colocou “cafajeste” no meu vocabulário, ela também fez com que eu aprendesse a importância de abraçar e, sobretudo, que o melhor dia de demonstrar afetos para parentes e companheiros é o dia de hoje, antes que fique tarde demais.sagem ficou. Até hoje essas palavras me tocam profundamente. Se vovó Paé colocou “cafajeste” no meu vocabulário, ela também fez com que eu aprendesse a importância de abraçar e, sobretudo, que o melhor dia de demonstrar afetos para parentes e companheiros é o dia de hoje, antes que fique tarde demais.e intensificou, porque eu fui me sentar ao lado da minha mãe, que soluçava na primeira cadeira em frente ao caixão. Ela, que estava muito abalada, encostou a cabeça no meu ombro. Eu poderia ter pego as palavras de vovó Paé e ter abraçado minha mãe, mas eu me senti tão frágil que não consegui fazer isso.

A lição que acabara de ser ensinada, que era de fazer demonstrações de afeto enquanto a gente pode demonstrar, já não era cumprida. Posso não ter abraçado a minha mãe naquela hora, mas a mensagem ficou. Até hoje essas palavras me tocam profundamente. Se vovó Paé colocou “cafajeste” no meu vocabulário, ela também fez com que eu aprendesse a importância de abraçar e, sobretudo, que o melhor dia de demonstrar afetos para parentes e companheiros é o dia de hoje, antes que fique tarde demais.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

O beijo do fim da guerra

Uma das fotos mais famosas da segunda guerra é "the end's war kiss", tirada no meio da rua de Nova Iorque.


"Eu estava no metrô na Times Square e quando eu subia as escadas, uma mulher do lado de fora me disse que ela estava muito feliz por mim. Eu perguntei 'Hey por quê?" e ela disse: "A guerra acabou, você pode ir para casa agora!". Eu estava tão animado que eu comecei a pular e gritar, porque o meu irmão mais velho era um prisioneiro de guerra(...) Em seguida, a enfermeira abriu os braços para mim. Fui até lá e beijou-a. Vi um homem correndo para perto da gente... Eu pensei que era um marido ciumento ou namorado querendo me arrancar os olhos. Quando olhei para cima, vi que ele estava tirando a foto. Aí eu beijei ela o tempo necessário para ele tirar a foto. Eu inclinei a minha mão para trás, para que pudesse mostra o rosto dela... "

Ninguém acha esta foto pornográfica. Ninguém acha esta foto "pornografia lascívia". Por que um beijaço gay seria?

Se o Marcelo Hermes, professor da UnB, acha que o corredor da universidade não é um "lugar de beijos lascivos (seja gay ou hetero)", então ele vê esta foto como pornografia e que milhares de livros de história mundial e dos Estados Unidos são revistas pornôs, estilo "Playboy" e "GMagazine".

Marcelo Hermes, se você vê aquelas fotos com pornografia, ou você tá fazendo um julgamento que a foto "The end's war kiss" é pornografia, ou você ficou com tesãozinho por aqueles dois garotos bonitos que apareceram no site da UnB... qualquer das alternativas é super lamentável.

íntegra do texto do Marcelo Hermes: http://cienciabrasil.blogspot.com/2011/05/unb-promove-o-atentado-ao-pudor-no-seu.html



sexta-feira, 13 de maio de 2011


"É melhor morrer jovem enquanto está no auge". O auge, entretanto, já se foi há muito tempo.

Lacraia tem este apelido por ser uma dançarina de grande desenvoltura corporal. Diferentemente, Aluisio de Azevedo, no seu romance "O Cortiço", descreve uma personagem, a Rita Baiana, não por meio de um apelido, mas pela metáfora "requebrava como uma cobra". Mais de um século de diferença, nem há mais razões de se utilizar da metáfora "como uma cobra"; a metonímia serve bem melhor, economiza palavras. Aliás, a metonímia assume a nossa animalidade. Agora somos tigrões, cachorras, melancias.

Lacraia é símbolo dessa mudança, mostrando que a distinção "natureza e cultura" é de uma epistemologia retrógrada, machista e heteronormativa. Ser meio animal permite romper com oposições que calam quem não se enquadra nelas.

Lacraia, meio homem, meio mulher e meio animal, foi duramente criticada quando surgiu no Domingo Legal do ano de 2003. Pais ficaram enfurecidos em dar destaque a um indivíduo que ensinava às pessoas demonstrarem sexualidade de maneira dúbia. É como se ela fosse um sapato que jamais poderia ser colocado em cima da mesa. A Lacraia, em si, não era "suja", mas o lugar dela não "era no domingo à tarde". Como sapato, seu lugar era o chão. Ainda bem que a Lacraia teve voz (e imagem) e que as pessoas sintonizaram às televisões para ver seu requebrado e escutar McSerginho.

Lacraia trouxe voz aos híbridos da natureza e da cultura. Pode não ter ficado no auge e ter morrido em um ostracismo relativo, já que agora a moda é mulheres frutas. Mas as mulheres frutas só têm voz hoje porque um dia foi permitido que a mulher réptil dançasse "tô mandando um beijinho pra filhinha e pra vovó/ só não posso esquecer da minha égua pocotó".

sábado, 2 de abril de 2011

Do médio ao superior - algumas continuidades e rupturas de ensino.

Estou acompanhando estudantes da Universidade de Brasília em seu primeiro semestre. São estudantes do curso de direito, em sua maioria realizando a primeira graduação. Sinto que há rupturas e continuidades com o ensino médio. Apresento, aqui, apenas um exemplo de cada uma.

Uma ruptura
Na aula de introdução ao direito, sentam-se todos na sala e aguardam o professor chegar, tendo sempre um olho em direção à porta de entrada da sala. A disciplina da escola ginasial, que faz com que não seja desejável você sair da sala de aula enquanto espera o professor, ainda tem ação social nos seus estudantes. Lembro-me que, certa vez no meu primeiro semestre, fui dar um passeio pelo pavilhão João Calmon e comer na cantina do Anísio Teixeira. Passei cerca de 20 minutos e retornei à aula. Minha colega, também caloura e egressa do colégio, ao final da aula, me afirmou: "nossa, Alexandre, você demorou tanto. Estava doida para ir ao banheiro". O que aconteceu foi que esta esperou eu voltar para ela ir ao banheiro, resultado da etiqueta escolar que proíbe a saída de mais de um estudante por vez.

Uma continuidade
O professor fala em sala de aula e o estudante copia. O caderno ainda é a principal tecnologia de aprendizado ("eu só cobro o que eu dou em aula"). O professor faz sua abordagem sobre os conceitos de "Ciência", "cultura" e "direito", mas é incapaz de afirmar qual é a matriz teórica que segue, nem indicar quais autores pensam desta maneira sobre determinado objeto.
Fazem da ciência uma só, e nem mostra a cara de quem está atrás desta ciência. Eu, durante certa aula, estava vendo Tércio Sampaio, Durkheim e Saussure por trás do que o professor falava, mesmo que este não tenha citado o nome de qualquer um destes teóricos. Os calouros, infelizmente, não sabem que aquilo ali tinha uma origem autoral e empreendem a compreensão daqueles fenômenos como a única forma de tocar o conhecimento. E o professor, para mim, fica no mesmo nível do professor de ensino médio. Repete a ação de um professor de ensino médio de história, que fez com que eu me tornasse temporariamente e inconscientemente um marxista (escrevia nas minhas provas que "O faraó dominava a sociedade egípcia por controlar os meios de produção"). Lamentável.

Sei que as relações sempre são hierárquicas, que os professores são mais poderosos do que os estudantes e têm o domínio do sistema coercitivo, e não quero romper com isto. Mas saibam que ver revoltas estudantis me lava a alma. Professores, deixem as crianças em paz.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Por múltiplas histórias do CADir


Por histórias múltiplas do CADir
Alexandre J. de M. Fernandes

Durante os anos 1980, brasileiros foram às ruas e pintaram seus rostos, ocuparam os espaços públicos e gritaram pelo “Diretas Já”. As insatisfações com os governos autoritários e uma diversidade de fatores de ordem econômica e social lançaram uma semente de esperança nos corações de muitos cidadãos, e, de fato, o Brasil começou a trilhar o caminho para a redemocratização. Pode ser que o “Diretas Já” não tenha sido um evento que conseguiu cumprir todas as suas propostas, assim como as práticas anti-democráticas não cessaram por tal ocasião. É certo que este foi um evento “vitorioso” e que ‘revolucionou’ as governabilidades no Brasil, um marco da história do Brasil
Eu não era nascido à época destes eventos, mas foi esta a imagem que eu tenho do movimento “Diretas Já”. 01No entanto, a existência de diversas historiografias sobre o mesmo evento fez com que eu construísse uma história tridimensional do passado do meu país. Entre uma dessas dimensões foi sobre a imprensa do Brasil, especificamente a Rede Globo, que se apresentou contrária ao movimento. Exemplo clássico desta atitude foi sua cobertura do Comício da Praça da Sé, São Paulo, realizada em 25 de janeiro de 1984, obscurecendo que se tratava do “Diretas Já” e afirmando que aquela manifestação era mera comemoração do aniversário da cidade. Depois de 20 anos dos acontecimentos, a Rede Globo afirmou que agiu de maneira “imparcial” [vide o livro “Jornal Nacional - A Notícia faz história, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004], indicando que não era contrária ao movimento.
Trazer à tona um evento de amplo conhecimento nacional é uma forma de introduzir as minhas questões em relação ao espaço político da Universidade de Brasília, especificamente aos estudantes vinculados à Faculdade de Direito. Eventos políticos ocorrem na UnB o tempo inteiro e alguns se tornam marcos da história desta universidade. Se existe uma reflexão melhor sobre o direito à memória nacional brasileira, esta também deve ser aplicada às memórias das instituições políticas que fazemos parte no nosso dia-a-dia.
Partindo do macro, quero manifestar um anseio para que contemos diversas histórias sobre o Centro Acadêmico do Direito da Universidade de Brasília, que esta história seja transmitida aos corpos discentes que virão através de fontes para além do “Manual do Calouro” ou dos dizeres dos integrantes das gestões diretoras, atuais e passadas.
Desta maneira, farei alguns comentários sobre um evento específico, tentando mostrar que existem interpretações divergentes sobre determinados fatos, que diversas vezes o corpo discente da FD/UnB, ao ser representado por um ente coletivo, o CADir, pode ter sua história contada de maneira diferente.

A ocupação da reitoria

Timothy Mullholand foi o reitor da UnB, mas a existência de diversas acusações de desvios de verbas, de práticas autoritárias e da compra de lixeiras de mais de dois mil reais fez com que estudantes da UnB se mostrassem insatisfeito com sua gestão. As acusações foram tantas que o Diretório Central dos Estudantes convocaram uma assembléia geral dos estudantes no Ceubinho no começo do mês de abril de 2009 e, através de uma deliberação, caminharam (ou marcharam?) rumo à reitoria, talvez inspirados nas ações dos grupos estudantis da Universidade de São Paulo, que também chegaram a ocupar a sua reitoria.
O site eletrônico da UnB começou a anunciar as ações deste grupo. Colocaram fotos dos ocupantes; a impressão que eu tive (ou talvez eu tenha construído isto na minha memória) era de estudantes raivosos (até espumavam). Nas mãos destes estudantes tinham cadeiras e outros objetos que serviriam para um conflito físico. A Secretaria de Comunicação (SECOM) reservou uma seção da página para o que chamava de “Invasão da Reitoria”. Começava, a partir daquele momento, a disputa terminológica entre “invasão” e “ocupação”. Invasão, categoria que remete às ações dos EUA em países asiáticos, indicaria que o movimento daqueles poucos estudantes eram “agressivos”. Os agressivos, ao contrário, se autodenominaram “ocupantes”.
Apesar da SECOM pintar os estudantes como “ilegítimos”, o movimento da ocupação/invasão da reitoria teve carisma suficiente para reunir a atenção de diversos estudantes. E os ocupantes que estavam ilhados no gabinete do reitor se viram apoiados por um grupo considerável de estudantes que faziam coro no pátio da reitoria.
Entretanto, as primeiras manifestações que eu vi nos grupos de e-mail, de estudantes da Faculdade, foram no sentido de que se tratava de “totalismo puro”, de “ações parciais” e de “baderneiros”. A primeira manifestação pública do Centro Acadêmico de Direito foi apresentar a nota oficial do Movimento de ocupação no I-CADir 517, editado por João Telésforo (então secretário do Centro Acadêmico – Gestão CADir em Movimento). A nota era antecedida por uma nota do Centro Acadêmico, afirmando que ainda não tinha posição institucional sobre o evento:
O CADir ainda não tem um posicionamento institucional sobre a ocupação. Estamos divulgando a nota abaixo para manter os estudantes informados e dar início ao debate sobre o mérito do ato de ocupação e de suas reivindicações. O assunto será debatido na reunião do Conselho de Representantes deste sábado, para a qual convidamos todos.

Em 8 de abril, o I-CADir convocou todos os estudantes do direito para uma Assembléia Geral Extraordinária para que estes se manifestassem sobre a seguinte pauta: 1. Posicionamento do CADir sobre a ocupação da Reitoria pelos estudantes, 2. Posicionamento do CADir sobre a pauta de reivindicações dos estudantes.
Durante a assembléia, grande parte dos estudantes se juntou nos jardins da FA e alguns se inscreveram para manifestar sobre a pauta, sendo favoráveis ou não. Depois de diversos falarem, a gestão diretora fez com que as pessoas que se posicionassem a favor da ocupação ficassem de um lado e os que fossem contrários ficassem do outro. Eu não me lembro qual foi o resultado numérico, mas creio que a diferença foi de dois terços contrários a ocupação e um terço a favor da ocupação. O segundo ponto de pauta, por ser diretamente ligado ao primeiro ponto, não foi de tanto interesse dos estudantes, que após uma longa discussão sobre o primeiro ponto, se dispersaram.
Assim, o Centro acadêmico se tornava um dos primeiros CAs da Universidade (não confirmo, mas talvez tenha sido o único) a se posicionar contrário a ocupação da reitoria. Talvez tendo um espírito de superego da UnB, os estudantes da Faculdade de Direito fizeram sua representação coletiva no sentido de serem contrários ao movimento “em defesa de um procedimento institucional para a cassação do mandato do reitor Timothy Mulholland, permitindo a sua ampla defesa e o devido processo legal”.
Em 23 de abril daquele ano, o reitor e o vice-reitor renunciaram. A ocupação da reitoria continuou por mais um tempo, pois ainda havia como pauta a discussão da paridade entre estudantes, professores e servidors. O CADir, pelo o que eu tenho conhecimento, jamais registrou no I-CADir a ata daquela assembléia, ou que tenha se posicionado contrário ao movimento.

Três anos depois...
Hoje, o Centro Acadêmico não tem registros públicos de tais eventos. No “Manual do calourx”, no tópico do movimento estudantil, não há atualizações indicando a importância daquele evento para os rumos da UnB.
Muitas pessoas que, à época, se posicionaram contrários ao movimento, hoje apresentam certo arrependimento, afirmando que se tratava de “um cegueira institucional”. Em texto publicado no grupo de e-mails do Conselho do CADir, o então secretário da gestão do CADir, João Telésforo chegou a afirmar que “os estudantes podem pressionar as instituições a fazê-lo. Querer tomar para si esse poder é querer tornar as instituições democráticas reféns da ação de um grupo político parcial. É o grupo parcial assumir-se como totalidade. É totalitarismo puro". Hoje, o mesmo afirma que, à época, ainda não “despertara do sonho dogmático”:
“Eu apoiava o intuito do movimento, mas era contra devido a uma visão institucionalista parcial: que dava peso excessivo ao instituído, e muito pouco ao instituinte que se manifestava ali. Costumo dizer que a ocupação me acordou do meu sono dogmático. Ao final, eu já tinha revisado minha posição a respeito dela, e aquilo mudou minha visão do direito e da democracia...”


Considerações finais
Não é a primeira vez que o CADir deixa de registrar eventos de sua história. Não tenho o menor conhecimento sobre o que chegou a acontecer na Faculdade de Direito durante os anos do regime militar, mas escutei certa vez do Professor Cristiano Paixão que houve estudantes do Centro acadêmico que foram condizentes com a perseguição de estudantes “rebeldes”. Estas histórias, que ficam escondidas em arquivos mal visitados ou sobrevivem apenas na história oral, tem de utilizar da tecnologia da escrita e da publicização dela para permitirem uma memória institucional.
É, portanto, necessário registrar todas as coisas que o CADir faz. O CADir, pela experiência da minha graduação, comparativamente com outros centros acadêmicos da Universidade de Brasília, apresenta-se bastante organizado e proativo, sendo, por muitas vezes, essencial para a administração do curso de graduação. E isto também deve ser memorizado e relembrado.
É importante também que se reviva tal memória por múltiplas vozes, para que não ocorra ações como a Rede Globo realiza, a de, às vezes, se mostrar como sujeito das ações de movimentos tidos como gloriosos por uma maioria. Em um dos discursos da colação de grau do 1°/2011, foi afirmado, em outras palavras, que os estudantes de direito foram proativo na ocupação da reitoria, o que, pelo o que eu vivenciei e às visitas que fiz à reitoria durante a ocupação, não é verdade. Estudantes, intencionalmente ou não, ficam com suas trajetórias pessoais marcadas por ações que jamais realizaram.
Assim, é importante vivenciar a história do CADir por diversas versões, complementares ou contraditórias e, principalmente, por múltiplas vozes.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Porque eu não vou assinar a petição contra o "Estupro coletivo"

Antes de me taxar como homofóbico ou misógino, leia o texto:


Nesta tarde, chegou, por diferentes meios, o assunto sobre o "estupro corretivo" da África do Sul. Fui ler sobre esta categoria e encontrei um texto que pedia a assinatura de um abaixo-assinado, requerendo ao ministro da justiça da África do Sul que ele condene esta prática.
Não obstante me causar repulsa práticas lesbofóbicas e acreditar que não faz qualquer sentido violentar mulheres por serem homossexuais, eu fico imaginando quais são as construções que um tipo de petição como esta faz sobre realidades distintas. A África do Sul se torna um ambiente de perigo e dá uma breve sensação de que "aqui é melhor, (um pouco) melhor". O externo que se torna o primeiro plano das violações aos homens e mulheres.
Tal retórica esconde pretensões hegemônicas de humanidade e legitima visões de que somos melhores defensores de direitos humanos do que as elites locais deste país da África. "Vamos invadir a África, implantar "missões" de feminilidades e combater as hetero-normatividades" se torna algo legítimo. Não que não valha a pena hegemonizar visões mais pro-mulheres ou pro-homossexuais, mas eu acho que a proposta deste abaixo-assinado poderá ter uma vida social para fins de valia muito mais econômica do que para promoção de igualdade e liberdade de gênero.
Portanto, neste momento e com total desconhecimento da realidade dos sul-africanos, me recuso a assinar um abaixo-assinado que faz com que um "estupro corretivo" se torne assunto nacional, quando este tipo de violência sexual pode ser localizado.

Também penso que violações como essas ocorrem em diversos outros lugares: lembro-me de um documentário de um homem americano que tinha casado com uma mulher lésbica e que afirmou que, após escutar que a mulher era lésbica, compreendeu que ela era assim por "falta de carinho". Desta maneira, forçou sexo com ela. A mulher chorou e se sentiu violentada, apesar de não ter tido forças para se contrapor ao marido. Seria esta concepção de "sexo corretivo" apenas sulafricana?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Por que eu comecei a gostar de "a Rede Social"

Parece consenso entre meus amigos que "A rede social" não é um filme "nada de demais". Provavelmente, pode ser que isto seja verdade, mas, dentro da minha teoria interpretativa do mundo, gostar ou não de um filme envolve muito mais do que o filme, envolve empatia entre audiência e o próprio filme.
A minha relação com o filme começou com a crítica especializada americana, que tratou do filme como o melhor do ano. Todos falavam de um roteiro bem amarradinho, de uma edição interessante, etc.. O filme me tocou, no entanto, pelo contato que tive com o material de marketing. O cartaz, por exemplo, tem um formato mais diferenciado dos outros, colocando em um plano bastante secundário o título do filme:
Tudo bem que isto não significa tanta coisa, afinal, é apenas um cartaz e aquela máxima de "não julgue o livro pela capa" tem uma determinada importância. Só que colocar um cartaz que não possui os créditos do cast&crew, ou mesmo deixar de lado os nomes de destaque do elenco (que não tem, exceto pelo Justin Timberlake), torna o filme pretensamente "distinto".
Fui, então, assistir ao trailer do filme. Este, sim, me arrebatou imensamente. Mulheres cantando, em coral, uma melodia (Creep, do Radiohead) em que um cara busca aceitação "I want a perfect body/ I want a perfect soul/ I want to know me/ when I'm not around/You're so fucking special/ I wish I was special" enquanto as cenas do filme vão passando, e surge a história de intrigas entre antigos amigos - o facebook como espaço de união e posterior discórdia e uma explosão de imagens em que o sucesso surge "this is our time".

Mesma reação tive quando assisti ao trailer de "Closer - Perto Demais": juntaram-se as músicas do Damien Rice (que era um desconhecido para boa parte dos seus atuais fãs brasileiros) e da Suzanne Vega, com frases de efeito "Intimacy is a lie... we think we know". Assisti muitas vezes (e adorei o filme também). Há, se você vê os dois trailers, similaridades, como o fundo musical e uma introdução com cenas sem diálogos.


Eu assisti ao filme, sendo uma pilha de expectativas e algumas pessoas afirmando que ele não prestava. E, meio que com a finalidade de dignificar minhas expectativas, eu disse que somente assistindo ao filme para dizê-lo se ele é bom ou ruim. Não bastava desgostar sem assistir, nem criticá-lo por antecipação. Seria melhor dizer "eu não vi, e não quero ver" do que afirmar que era "histeria coletiva". Por antecipação, eu aprendi a gostar de um fime que não tinha assistido para contrapor a este modelo de comportamento com o cinema, que eu às vezes reproduzo...
No mais, o filme me apresentou uma boa reflexão sobre relações de amizade. Me identifiquei com Eduardo Saverin, que é apresentado como uma pessoa deixada de lado pelo amigo Mark Zuckerberg. Saverin se sente o amigo traído, porque não é mais tão atrativo e não quer por a culpa no seu amigo, mas sim na pessoa que Zuckerberg dá atenção, o Parker. Saverin desce na hierarquia dos amiguinhos de Zuckerberg e fica muito mal com isto.
Esta agressão moral é o melhor que se tem para extrair do filme do Facebook. Nem me importou muito a questão financeira, ou mesmo a formação do maior site de relacionamentos na atualidade. E hoje eu lembro como isto me ocorreu, quando eu me senti não mais "bem-querido".


Eramos nós, estreitos nós

Encontro-me na frente do computador da minha irmã. O meu está no conserto, porque, apesar de já estar reparado, não tenho dinheiro para tirá-lo. Isto não quer dizer que eu seja de uma família pobre, mas apenas que eu, Alexandre, em minha individualidade, estou pobre.
Poderia dizer "eu sou pobre" também. Mas, como parte de uma sociedade individualista, o "ser/estar" tem uma relação diferenciada. Afirmar que a minha condição no mundo "está" indica que eu acredito na mudança, que eu posso transitar entre as diferentes classes sociais. Se eu dissesse que "sou" pobre, minha condição de pobreza era estática, imutável.
Isto chega a questão principal do meu blog: será que ele poderá ser uma tecnologia de modificação do meu self? Não, não é para deixar de "estar pobre", mas sim por deixar de ser "imperseverante". Eu gostaria de escrever sempre, mas a preguiça faz com que eu abandone alguns blogs (ver meu perfil, que tem uns 5 blogs escritos e abandonados). Tentei recentemente um diário, mas também fui incapaz de mantê-lo por mais que um mês. É difícil Alexandre se manter perseverante.

"É difícil Alexandre se manter perseverante". Este meu medo de não conseguir manter tantas coisas boas na minha vida. Graduação, família, projetos. Por favor, me ajudem a ser uma melhor pessoa.

Obrigado.
Alexandre Fernandes no dia 25 de janeiro de 2011, ainda fazendo deste mês "a segunda-feira da semana" do novo ano.